Turn this house into a home...

Dia 23 de junho de 2002, minha família saiu da nossa casa no Feitosa, onde morei os primeiros dezoito-quase-dezenove anos da minha vida.
Seu Lula tinha o sonho de morar de frente para o mar. Quando ele juntou uma quantidade considerável de dinheiro e se aproximava o início da aposentadoria da UFAL, ele nos levou tod@s para visitar obras de prédios.
Nunca externei isso antes, mas eu não gostei nada da ideia. Estava em uma época de transição - deixando o pesadelo que foi a vida escolar pra trás e começando um processo de renovação psicológica para iniciar a faculdade como um novo cara -, e precisava de um porto seguro pro caso de tudo desmoronar. Como, infelizmente, eu não sentia minha família como este porto seguro, só me sobrou a casa, no conjunto onde eu amava habitar. Mas não havia modo de eu dizer nada disso em voz alta (e continuo sem dizer, estou A ESCREVER pela primeira vez), deixei rolar. Acho que não faria diferença alguma dizer que não queria me mudar, de qualquer maneira.
Enfim, houve a mudança, mas eu continuei indo para a casa do Feitosa sempre que podia. Andar de ônibus e fazer um curso de horários malucos me permitiram esta liberdade de não ter hora exata para chegar em casa. E ter uma cópia das chaves (das quais levei anos para me desfazer) me davam a liberdade de entrar lá e fazer o que eu quisesse, mesmo que brevemente. Eu voltava para buscar coisas que havia deixado lá de propósito, ou para refletir - ver aquela casa vazia, com algumas caixas cujo conteúdo ainda se iria decidir o que fazer a respeito, era estranho demais, dava uma sensação de vazio e abandono quase torturantes, mas era meio que algo pelo qual eu precisava passar - talvez como modo de me desapegar de vez da casa e seguir em frente.
Meu acesso à casa do Feitosa cessou de vez quando a casa foi vendida. Apesar de já ter mais de um ano carregando o status quo de "habitante da Ponta Verde", não consegui me habituar a tal - eu simplesmente não gostava de estar aqui. Fiz algumas amizades e encontrei pessoas legais no prédio em que habito, é verdade, mas nada me tirou a impressão de estar preso a uma "vida de plástico". Nada é "real", aqui. Há reis e rainhas demais pra um único reinado - acredite, já fui filho de síndico, eu sei BEM do que falo. Muita gente não é o que parece ser (tanto no sentido de decência como no monetário), muita gente se digna a falar contigo por mera "educação", outros se julgam em patamar tão alto que nem se dignam a lhe responder um "bom dia" ou segurar o elevador para lhe aguardar. Não é como no Feitosa, onde todo mundo dizia o que queria e bem entendia e, se houvesse problemas não resolvidos, ao menos, estavam expostos e havia certa fraqueza no ar - é o ambiente em que eu cresci e onde eu queria continuar vivendo!
Atualmente, minha impressão do bairro de Ponta Verde apenas se solidificou. É como São Paulo: uma cidade linda de se visitar, interessantíssima pra uma visita, um curso rápido, uma balada; um local horrível para morar. A vida de plástico transformou-se numa bolha, que foi diminuindo conforme fomos respirando o oxigênio que havia dentro, e agora, estou sufocando nela, ao sofrer uma pressão absurda para "me conformar" e me tornar o que se espera de um habitante de tão nobre bairro: um coxinha ou um destes que engole feijão carioquinha, mas arrota caviar. Se não rolou em treze anos, não vai rolar nunca. Simples assim.
Hoje, indo visitar minha tia, passei pela minha antiga casa. Quase chorei. Quem está lá não se importa com ela, definitivamente. A casa onde vivi mais da metade da minha vida mal está em pé. As paredes estão cheias de infiltrações e descascadas. Os pilares estão se desfazendo, com a estrutura de ferro exposta. O jardim lindo que dona Sassá cultivou com tanto cuidado foi exterminado e cimentado.
Cada vez que eu passo pela rua Pedro Pedrosa, me sinto cada vez mais sem referência - eu tenho uma casa, mas não tenho um lar. E onde eu tinha um lar, não é, mais, minha casa - e está desmoronando.

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